quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Contracultura
Para os jovens dos anos 60, a geração que se caracterizou por seu interesse em sexo, drogas e rock and roll, e cujo slogan favorito era make love, not war, o sexo vinha indiscutivelmente em primeiro lugar. A liberdade sexual foi o traço de comportamento que melhor caracterizou o flower power. Costuma-se caracterizar essa geração, a da contracultura, pelas drogas. É bem verdade que o uso de drogas naturais mais leves, como a maconha, ou de drogas sintéticas criadas com propósito de tratamento psiquiátrico, como o LSD, foi bastante disseminado. Mas não era essencial para o movimento, nem sequer seu principal objetivo. A experiência com estados alternativos da consciência era apenas uma aventura capaz de atrair uma geração de jovens cujo fascínio pelo inusitado, pela exploração de áreas da experiência humana estranhas aos seus pais, foi sem dúvida marcante. Mas não era sua necessidade mais urgente. Na verdade, a necessidade mais urgente era por uma gratificação sexual plena, satisfatória. A geração da contracultura foi a primeira a colocar em questão a tradição do amor romântico, passivamente aceita por todas as gerações anteriores. A descoberta da possibilidade de se amar várias pessoas ao mesmo tempo e ter uma vida afetiva mais rica, mais diversificada, foi a grande revelação. Todo mundo podia transar com todo mundo. Essa liberdade inédita, a famosa permissividade da contracultura, foi duramente criticada pelas gerações anteriores como promiscuidade e degeneração. É possível que, em muitos casos, tal crítica tivesse até algum fundamento, mas, de maneira geral, o que se descobriu foi simplesmente a capacidade do instinto para auto-regular-se, para estabelecer espontaneamente seus próprios limites e os mecanismos de autocontrole porventura necessários, sem a imposição artificial de uma repressão externa. A liberdade sexual não acarreta necessariamente uma orgia permanente de maneira que ninguém faça mais nada na vida a não ser trepar o tempo todo. Isso só é assim na imaginação dos reprimidos. Na realidade dos que experimentaram essa liberdade, como os jovens da contracultura, há também moderação, equilíbrio e tempo de sobra para se fazer outras coisas. A experiência da contracultura forneceu a evidência mais palpável, até hoje, da possibilidade de uma cultura governada pelo princípio do prazer e não pelo princípio da realidade, gerador de neurose. Ou seja: pode-se dizer que a experiência da contracultura foi a primeira experiência capaz de desmentir, na prática, a suposição de Freud de que não pode haver cultura sem repressão. A possibilidade de uma cultura libidinal, não-repressiva, cuja idéia é exposta e desenvolvida por Herbert Marcuse em Eros e Civilização, é fundamental, decisiva para os destinos de nossa civilização. Ou continuamos a nos afundar no pântano da neurose coletiva, com suas manifestações secundárias de violência e doença a que estamos assistindo todos os dias, em toda parte, ou conquistamos a liberdade necessária para criar uma maneira de viver mais saudável e mais feliz.

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